terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pronto, falei!




Os problemas do nosso sistema público de saúde não começaram no mandato do presidente Lula, nem serão sanados no governo Dilma. O Governo Federal não administra sozinho os recursos que são repassados para as grandes cidades e municípios brasileiros. Garantir um sistema de saúde público de qualidade, não é tão simples quanto se imagina. A solução para um problema estrutural, não se resolve da noite para o dia. O caminho é longo e o importante é saber onde estávamos e aonde pretendemos chegar.

Ao observar vários comentários nas redes sociais pedindo que o ex-presidente Lula prossiga com seu tratamento contra o câncer em um hospital da rede pública, percebo o quão mal informadas, ou até mesmo, mal intencionadas são essas mesmas pessoas. Muitas delas, pelo que pude observar, nunca precisaram encarar as imensas filas desses estabelecimentos para se tratar nem mesmo de uma mera gripe. Além disso, sinceramente eu não consigo entender por que tanto ranço com um presidente que, se não foi perfeito, conseguiu em seu mandato retirar 30 milhões de famílias da linha da miséria e incluir mais 30 milhões na classe média. Esse mesmo presidente, ao final de seu mandato, deixou o Brasil com o menor índice de desemprego desde a redemocratização.

Aos desavisados, entre 2002 e 2010, período que corresponde ao mandato de Lula, os gastos com saúde cresceram, em termos nominais, 132,4% no Brasil. Ainda assim, há muito para termos um sistema de saúde minimamente digno. Porém, o que fica fácil de observar, é o nítido preconceito pelo qual Lula teve que enfrentar ao longo de sua trajetória como sindicalista e como político. Itamar Franco (que Deus o tenha) que fez muito menos pela saúde, não foi questionado por ser tratar em um hospital privado. O vice-presidente José de Alencar (grande exemplo de amor à vida e perseverança), também não foi questionado por prosseguir com seu tratamento nos melhores hospitais privados do país. Então, qual o problema com Lula? Queriam estes senhores que o nosso ex-presidente, sozinho, pague com a própria vida por um problema que ele não criou? A troco de quê? Vamos deixá-lo “roubar” a vaga de um cidadão que realmente dependa do SUS como única alternativa para o tratamento?

O que fica nítido, é que incomodou MUITO, o fato de um ex-presidente sem instrução acadêmica, oriundo de classes sociais menos favorecidas, conquistar melhores resultados que os “doutores”que o antecederam. Estes mesmos “c idadãos”, se incomodam com o filho da empregada que estuda na mesma universidade que seu filho graças ao ProUni. Eles acreditam, de verdade, que programas de inclusão social são esmolas que estimulam a “vagabundagem”do trabalhador. Afinal de contas, sem morrer de fome, esses mesmos trabalhadores podem exigir do empregador um salário mais digno, por não precisar mais se escravizar em troca de comida. Além disso, a contrapartida é que os filhos dos contemplados pelo programa Bolsa Família freqüentem as escolas. Com estudo, será que essas crianças terão uma nova oportunidade na vida? Quem vai engraxar os sapatos destes senhores em troca de uma moedinha? Será que essas crianças conseguirão se apoderar de algumas vagas no mercado de trabalho que, naturalmente, seriam ocupadas pelos filhos destes senhores?

Lula, ao contrário dos que torcem pela sua morte, já vivenciou muitas dificuldades na vida e perdeu a esposa grávida de oito meses em um Hospital Público.

A falta de sensibilidade com o sofrimento alheio, revela o lado mais podre do ser humano. Eu ainda quero acreditar, que os mesmos que participaram dessa nefasta campanha de exigir que o presidente continue seu tratamento pelo SUS, o fizeram por ignorância. Seria muito triste constatar que ainda existem brasileiros torcendo pela morte ou pelo sofrimento, de quem quer que seja, em tais circunstâncias.